quinta-feira, 25 de maio de 2023

MICHÈLE SATO, PRESENTE!




MICHÈLE TOMOKO SATO

O que dizer  escrever  - sobre Michèle Sato, em poucos parágrafos, que sejam expressivos e representativos da existência  e obra dessa mulher?
Uma profissional indescritível! Pós-doutora em Educação e na Arte de aliar Arte-Educação como ninguém jamais havia feito para denunciar e anunciar as mazelas e crimes na área ambiental! Uma pesquisadora na essência da palavra! Tudo foi motivo de estudo. Nada passava por uma leitura simples de mundo. Ao contrário, lia o mundo por diferentes vieses. Interpretava-o e o traduzia em múltiplas linguagens para todos que dela se aproximassem.
 Não tinha tempo ruim para Michèle “arregaçar as mangas” e disseminar conhecimentos a quem quer que fosse e onde quer que estivesse. Falava aos pantaneiros-as, indígenas, negros-as, educadores-as, estudantes, migrantes, enfim... Humanos de todos os grupos e lugares, sempre com seu jeito humilde, inteligente, firme e decisivo de dizer verdades. Michèle surpreendia sempre! Foi brilhante!
Falava e atuava, com propriedade, sobre temas diversos, pois havia ciência em tudo que fazia. Aliás, Ciência – Amor - Esperança sustentavam sempre seus argumentos. Educadora encharcada nas obras de Paulo Freire, militava em favor da VIDA. Vida para o planeta inteiro e todos seus habitantes – criaturas de todas as espécies – em  todos os lugares. 
A água, a terra, o fogo e o ar impregnaram todos os momentos de sua vida, arte e militância. Pois é um espírito semeador que lançou sementes em diferentes direções, sempre preocupada em desfazer a invisibilidade e a vulnerabilidade dos seres esquecidos nesse mundo. Lutou por um planeta inteiro! 
E mesmo no leito de um hospital de UTI, ao longo de 33 dias, foi guerreira, ensinando-nos a lutar. Como lutou!
Nunca será dito o bastante sobre essa mulher que foi ÁGUA, TERRA, FOGO e AR. 
GRATIDÃO!

Grupo Pesquisador em Educação Ambiental, Comunicado e Arte

Contra os retrocessos ambientais

  




A boiada no congresso continua passando... O coletivo OBSERVARE OBSERVATÓRIO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL denuncia a aprovação, em regime de urgência, no Congresso Federal, de medidas que colocam em xeque a reestruturação das nossas políticas ambientais, o protagonismo dos povos originários e a defesa da Mata Atlântica . 


Ontem foi aprovada a Medida Provisória 1154/23 que esvazia os Ministérios do Meio Ambiente e dos Povos Indígenas. Além disso, foi aprovado o enfraquecimento da proteção à Mata Atlântica.


Outro retrocesso foi a aprovação do PL490, chamado de Marco Temporal, uma medida violenta contra os povos Indígenas que atenta sobre o reconhecimento de suas terras. 


 Este é mais um dos ataques que a luta ambiental sofre, colocando a frente a ganância a qualquer custo, enquanto o colapso climático avança e os impactos recaem aos povos à margem deste sistema desigual que estrutura nosso País.


Contra os retrocessos ambientais!

Marco Temporal não!

Não à MP 1154/23!

Seguimos na luta!

OBSERVARE

sábado, 4 de fevereiro de 2023

nota de pesar

 https://www.ufmt.br/curso/ppge/noticias/nota-de-pesar-1675532987#top_page

Nota de Pesar

Foto: Redes sociais

Foto: Redes sociais

OPrograma de Pós-graduação em Educação (PPGE) da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) se solidariza com a família de Thays Machado, egressa do curso de mestrado deste programa, pela sua partida tão breve. Enquanto estudante da pós-graduação defendeu este espaço de educação pública, gratuita e de qualidade e, principalmente, “Os Direitos Humanos e a Educação Ambiental”, tema da sua dissertação de mestrado, defendida em 2010 sob a orientação da Dra. Michèle Sato.

 

O ocorrido com Thays, na data de 18 de janeiro de 2023, ficou marcado para sempre na existência dos professores do nosso programa, assim como dos amigos e da sua família que, assim como milhares de famílias brasileiras perdem suas filhas, vítimas de feminicídio, uma triste realidade que se perpetua no contexto de um sistema que é estrutural em nosso país.

 

Diante de tamanha tristeza e dor, externalizamos o nosso mais profundo pesar pela perda, bem como o nosso sentimento de indignação pela forma como a sua vida foi tão brevemente ceifada, destacando que estaremos juntos na luta por justiça.

 

Desejamos, de mãos dadas, conforto ao coração de toda família.

 

Respeitosamente,

 

Colegiado e Funcionários do PPGE/UFMT.

 

Thays presente!

domingo, 27 de novembro de 2022

NOTA DE REPÚDIO

CONTRA AS VIOLÊNCIAS NAS ESCOLAS CAPIXABA 

Escola Primo Bitti, Em Racruz, ES / fotografia Kadija Fernandes

Fonte: Folha de SPaulo, https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2022/11/atirador-de-aracruz-es-usou-equipamentos-de-policia-para-entrar-em-escola-diz-investigacao.shtml


Nós, educadores e educadoras ambientais, prestamos nossa solidariedade as vítimas, as famílias, aos amigos e ao povo do Espírito Santo que sofrem a dor da ferida feita pelo ato covarde, cruel, patológico e de extrema violência nas escolas: Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Primo Bitti e no Centro Educacional Praia de Coqueiral, localizadas no município de Aracruz-ES. Nesse ataque brutal, 13 pessoas ficaram feridas levando à quatro vidas ceifadas da pior maneira, sendo três professoras e uma estudante de apenas 12 anos. A escola, lugar supostamente seguro, onde se planta sonhos e esperanças, tornou-se, na última sexta-feira (25/11/2022), lugar de violência e de tristeza.

Manifestamos a importância do trabalho desenvolvido pelas professoras que nos deixaram, e que, deixam para as futuras gerações suas lições de ciências, porém, mais do que isso, sua própria experiência de vida como exemplo de luta em defesa da vida. Embora todas as vidas sejam igualmente importantes, registramos a atuação da companheira que deixou marcas profundas na sua luta por justiça ambiental, a Socióloga e professora Flávia Amboss Merçom, que participava da gestão e que lutou contra as injustiças ambientais do crime de Mariana.

Nós educadores e educadoras ambientais, impactados com o crescimento da extrema direita de grupos neonazistas e neofascistas estimulados por sinais subliminares implícitos e explícitos, muitas vezes até por autoridades como o atual presidente e seus “seguidores”, não podemos permitir deixar passar impune essa violência.

O fomento ao ódio e todas as manifestações a favor das armas são expressões da violência que favorecem mais crimes hediondos. Os manifestantes destas exteriorizações de ódio são, portanto, responsáveis pela tragédia ocorrida, fruto do estímulo ao armamentismo e ao exagerado culto militar. Entendemos que quem cometeu esses crimes assombradores não é apenas um jovem de 16 anos completamente fora de seu altruísmo, mas um sistema de necropolítica que facilitou o seu acesso às armas, que estimulou a violência e que fez nascer e crescer na nossa sociedade um espírito de violência e que precisa ser imediatamente combatido.

Essa nota expressa a nossa dor e a nossa solidariedade às famílias e vítimas, mas também é um grito de repúdio e de indignação a esse cenário.

É uma forma de dizer basta dessa cultura de guerra! Chega!
Por uma cultura da paz!
Desarmamento já!
Desnazificação já!

Pela punição efetiva aos que incitam ao ódio!
Chega, em nome da vida!
Dos que lutam pela vida e pelo direito de existir!


27/11/2022

Rede Capixaba de Educação Ambiental, RECEA
http://receaes.blogspot.com/

Núcleo Interdisciplinar de Pesquisa e Estudos em Educação Ambiental, Nipeea
http://nipeea.blogspot.com/

Observatório da Educação Ambiental, OBSERVARE
https://observatorioea.blogspot.com/

sábado, 26 de novembro de 2022

marcas da bola

 poesia e pintura: CELSO SÁNCHEZ

campinho de pelada e as marcas da bola


Quiseram derrubar o céu

Quiseram antecipar o fim do mundo

Tentaram reviver o mal passado

Queimaram o verde 

Saquearam o amarelo

Borraram o azul

Em nome do Branco

Mas não conseguiram achar o umbigo plantado no chão 

Nem conseguirão 

Almas Rebeldes em rodopios entorta arados

Gingam e não se rendem

é impossível dissipar essa multidão de encantados

Impossível dispersar quem sonha junto e faz chover

Gente que dá voleios e sabe voar

Aponta caminhos com ponta firme

E aprende a sonhar

Essa gente que insiste em acreditar na gente

Essa gente umbigada na terra

Que busca apenas a dignidade e o direito de dizer

Quando bem entender e quiser,

NÃO 



Ainda pra Richarlison que me fez torcer pelo Brasil de novo! 

Viva a Copa!!!! 

Vai Brasil!!!

Obrigado companheiro!


Richarlison por Gilmar
*



terça-feira, 1 de novembro de 2022

PENSEM BEM... MAS, BEM MESMO

 

 

arte: ADEMAR VIEIRA

PENSEM BEM...

MAS, BEM MESMO

Luiz Afonso Figueiredo


Pensem bem...

mas, bem mesmo; profundamente.

Enquanto uns choram,

Em meio a loucura instalada,

A não aceitação da democracia.

Em que pessoas gritam desrespeitadas,

Mesmo no silêncio ensurdecedor e criminoso

De seus líderes maiores.

Falam em divergir, radicalizar,

Destruir coisas tão caras à vida justa.

Falam em nome de Deus,

Mas, que Deus é esse que prega o ódio e a intolerância?!

Em que texto sagrado está dito

Que você pode quer a morte do outro?!

Divergir sim, mas com respeito e consideração.

Sabemos bem o que é isso,

Não ser considerado, ouvido, ter atenção.

De outro lado,

Pessoas falam em amor, confiança,

Em reconciliar, reconstruir e reunificar,

Recuperar amizades, laços familiares.

São os que não soltam a mão de ninguém,

Que plantam flores, árvores e alegrias,

Pessoas que querem a luz para todos e todas,

Justiça todos os dias.

Não sei em que mundo vivem os primeiros,

Talvez estejam presos na MATRIX,

Sendo sugados, vilipendiados,

E, mesmo assim, creem que estão vivendo

Em um mundo feliz.

Enquanto, seu “mito” vocifera,

Coloca a gente no fundo do poço da história,

Pragueja, dilacera e nada faz,

As outras referências,

Ressaltam que não querem dois Brasis,

E pregam a esperança, o entendimento e a paz.

Aquele endeusado,

Insano, débil e escatológico,

Retira direitos, escancara defeitos,

Fala que tudo está lindo e maravilhoso,

E o país na fila do osso.

O operário,

Com pouco estudo, mas grande sabedoria,

Mesmo com tanta mentira e iniquidade,

Volta altivo, amistoso e forte.

E em menos de 24 horas se faz,

Respeitado por todos países,

Do hemisfério Sul ao Norte.

Pense bem...

Mas, bem mesmo.

Quais são as referências e os fundamentos,

De um e do outro lado.

Armas ou livros?

Pense bem...

Mas, bem mesmo.

Você crê, no fundo coração,

Que teu “mito” não te abandona,

Que quer o melhor para você e sua família?!

Que chora contigo nessa hora,

E tantas outras em que

Mais de 600 mil brasileiros e brasileiras morreram

Por uma enfermidade mundial,

Mas que poderiam ter sido salvados,

Pela Ciência e boa vontade.

Pense bem...


Luiz Afonso Figueiredo

Solar Yuc (Mérida, Yucatán, México)

01 nov. 2022

quinta-feira, 30 de junho de 2022

Unirio pretende anular posse de professora após oito anos de dedicação à instituição

 https://adunirio.org.br/principal/unirio-pretende-anular-posse-de-professora-apos-oito-anos-de-dedicacao-a-instituicao/


Unirio pretende anular posse de professora após oito anos de dedicação à instituição


Soubemos que após oito anos se dedicando ao ensino, à pesquisa e à extensão na Unirio, a professora Elizabeth Sara Lewis, da Escola de Letras, foi informada pela reitoria que terá sua posse anulada. A docente tem uma atuação destacada na instituição, tendo exercido ao longo do período as funções de coordenadora do curso de Licenciatura, membro do Conselho de Centro, membro do Núcleo Docente Estruturante do curso de Licenciatura em Letras e presidenta da seção sindical, Adunirio. Além disso, alcançou distinção como pesquisadora, carregando consigo o nome da Unirio ao receber o reconhecimento externo pelo seu brilhantismo e empenho. Participou também de projetos de extensão de impacto significativo na comunidade, atuando ainda na Comissão Permanente de Pessoal Docente (CPPD) e no Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Consepe).

A Adunirio, com auxílio da sua assessoria jurídica, tentou dialogar com a Pró-Reitoria de Gestão de Pessoas (Progepe) e a Procuradoria Geral para buscar uma solução para o caso. Indicamos mais uma vez que a Unirio poderia atuar com seu aparato burocrático para defender o desenvolvimento institucional, defender os interesses da comunidade universitária e buscar o melhor caminho para evitar a escalada nos conflitos internos. Infelizmente, porém, vemos novamente a reitoria optar pelo caminho autoritário, que neste caso resulta numa renúncia injustificada da universidade à experiência acumulada de oito anos de trabalho e em mais uma contribuição para a “fuga de cérebro” de uma instituição pública nacional.

Há um processo jurídico em torno da admissão da docente devido ao fato de que o concurso no qual a professora fora aprovada em primeiro lugar exigia, para candidatos estrangeiros, o visto permanente no ato da posse, 30 dias após a nomeação. Entretanto, o visto permanente só podia ser solicitado após a nomeação, e demorava até 90 dias para ser confeccionado, efetivamente impedindo a posse da professora. Ainda assim, a professora conseguiu garantir a obtenção do documento dentro do tempo determinado, mas a Unirio se recusa a reconhecê-lo no processo.

Escola de Letras lançou carta no fim de maio deste ano lamentando a postura da reitoria e solicitando “que qualquer decisão administrativa referente ao caso seja precedida de ampla divulgação de suas motivações à comunidade acadêmica, e do esclarecimento quanto aos esforços tomados para solucionar o caso de maneira favorável à universidade, o que certamente contará com nossa contribuição e mobilização para que a professora permaneça em nossos quadros”. Nós da Adunirio, depois de todos esforços que fizemos para buscar uma solução com a reitoria, reforçamos essa reivindicação da Escola de Letras para que o debate seja feito, então, de forma aberta com a comunidade e que a Unirio assuma as consequências de mais uma decisão desastrosa que intensifica o clima conflitivo na universidade.




AUTOR

Adunirio

RUBEN LASSAGA - URGENTE

 https://twitter.com/uttnacional/status/1542498018188042243?t=DguvJf_6Z2rBPNHvPdV4tg&s=08

En santiago del Estero siguen las amenazas y la violencia a quienes defendemos la tierra. Repudiamos las amenazas al Cura campesino RUBEN LASSAGA por defender la tierra.




quarta-feira, 8 de junho de 2022

nota de pesar GETÚLIO

NOTA DE PESAR
Getúlio Dornelles Larratéa


fonte: G1 - 08.06.2022
https://g1.globo.com/sc/santa-catarina/noticia/2022/06/08/professor-da-ufsc-morre-apos-ser-visto-desorientado-andando-em-rua-de-florianopolis-policia-investiga.ghtml


Nós, do Observatório da Educação Ambiental Brasileira (OBSERVARE), manifestarmos nossa tristeza e consternação pela morte brutal do professor Getúlio Dornelles Larratéa, incansável defensor da vida e do meio ambiente em Florianópolis. Professor aposentado da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Getúlio era um inovador metodológico no curso de Nutrição, além de ser um guardião do Sertão do Peri, em Florianópolis, denunciando as irregularidades das ocupações e na constante defesa da região.

No dia 2 de junho, em plena semana mundial do meio ambiente, o professor foi vítima de violência em sua residência, com a necropsia registrando inúmeras lesões corporais causadas pelo ódio propagado para aqueles que estão na base estrutural da necropolítica e do negacionismo ambiental.

Manifestamos nosso pesar aos familiares e somamo-nos à luta por justiça, continuando a luta ambientalista, a defesa da agroecologia, da soberania alimentar e em defesa da VIDA!

Seja nos sumiços nas rotas amazônicas ou nas regiões catarinenses, de norte ao sul, leste ao oeste, o Brasil testemunha as violências com um grito de indignação, com solidariedade e brados de resistência ecologista!

NÃO NOS CALARÃO!

GETÚLIO PRESENTE!




08/06/22

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quinta-feira, 7 de abril de 2022

“A Funai parou de ajudar as pessoas que estão defendendo a floresta”, diz líder Kayapó



“A Funai parou de ajudar as pessoas que estão defendendo a floresta”, diz líder Kayapó

https://apublica.org/2022/04/a-funai-parou-de-ajudar-as-pessoas-que-estao-defendendo-a-floresta-diz-lider-kayapo/

Fonte: Agência Pública

Resumo:

No Acampamento Terra Livre 2022, Doto Takak Ire falou à Pública sobre mineração ilegal, impacto das ações do governo para os povos indígenas e efeitos da emergência climática

Por Laura Scofield

Mesmo homologada desde 1993, a terra indígena Menkragnoti, onde vive o povo de Doto Takak Ire, os Kayapó, além de dois grupos de indígenas isolados, não está segura. A liderança conta que o garimpo ilegal vem crescendo desde 2019, o que forçou a criação de bases de vigilância nas fronteiras. Além do perigo do garimpo, as mudanças climáticas, diz, também estão se fazendo sentir, mudando o regime de chuvas e afetando o cotidiano dos habitantes tradicionais daquelas terras.

Nos quase 5 mil hectares da TI Menkragnoti, que compreende os estados do Pará e Mato Grosso, vivem cerca de 1.200 indígenas — o povo Mebêngôkre Kayapó Mekrãgnoti divide o espaço com os isolados do Iriri Novo e de Mengra Mrari. Doto Takak Ire cresceu na aldeia Pukany e, por 20 anos, trabalhou com a Funai na proteção de suas terras e direitos. Porém, se distanciou quando, sob o governo Temer, “a Funai foi enfraquecendo e eu comecei a pagar para trabalhar”.

Hoje a liderança Kayapó vive fora da aldeia e trabalha como relações públicas do Instituto Kabu, que desenvolve projetos e ações em 12 aldeias nas TIs Baú e Menkragnoti. Eram 14, mas em 2019 duas aldeias deixaram o Instituto depois de terem feito acordos pró-mineração.

Cercados pelos mineradores, os Kayapó criaram bases de vigilância para monitorar e diminuir o estrago. Hoje existem seis bases e planos para que outras sejam construídas nas duas TIs. Toda semana, um grupo de seis indígenas segue o rio e monitora os locais de risco portando suas armas tradicionais e se guiando a partir dos aprendizados provenientes de capacitações sobre a forma de abordagem, oferecidas pelo Ibama de 2010 a 2019 — com a chegada do governo Bolsonaro, o programa também foi paralisado. Como parte do Programa de Proteção Territorial, os guerreiros abordam e dialogam com os invasores, além de monitorar os resultados via satélite.

“A gente está vendo que está na cara, o governo quer abrir espaço, quer abrir a terra indígena. Só com o anúncio dele, o garimpo aumentou e a destruição aumentou”, afirma Doto Takak Ire ao criticar o PL 191/2020, que tramita em regime de urgência na Câmara dos Deputados e pretende liberar a mineração e a geração de energia elétrica nas terras tradicionais, sem a garantia de que os habitantes dos territórios tenham poder de decidir sobre o futuro de suas comunidades. “Se for o caso do Congresso aprovar [o PL 191], a gente vai ter que ir ao Supremo, pedir pro Supremo barrar esse papel que quer destruir o nosso futuro, o nosso sonho.”

A Agência Pública conversou com Doto Takak Ire na 18ª edição do Acampamento Terra Livre, organizado pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil. Durante 10 dias, entre 4 e 14 de abril, povos indígenas de todo o país se reúnem para debater e pressionar as autoridades em defesa de seus territórios.

Doto Takak Ire trabalhou com a Funai por 20 anos e agora é relações públicas do Instituto Kabu

Como alguém que trabalhou na Funai, como você vê a diferença da Funai de antes do governo Bolsonaro e de agora?

Antigamente, a Funai ajudava os povos indígenas, ajudava na fiscalização, ajudava a proteger a floresta. Mas depois quando o Bolsonaro assumiu, a Funai não existe mais e não está atuando mais nas aldeias.

Antes do [governo de Jair] Bolsonaro, a Funai havia criado uma CTL, que é a Coordenação Técnico Local, em que até os funcionários que eram chefes de posto atuavam nas aldeias. A nova gestão tirou todos os chefes de posto e levou para o município mais próximo, e dali a Funai começou a enfraquecer, começou a faltar dinheiro na CTL e a administração da época passou para a coordenação regional, aí que as coisas mudaram.

Em que momento você decidiu parar de atuar junto a Funai?

Tinha muito problema interno e a pressão dos garimpeiros e madeireiros, que achavam que a Funai que autorizava eles a entrar, era quem mandava ali. Eu não pude levar essa pressão dos madeireiros e dos garimpeiros e tive que sair, [pensei]: ‘não vou me arriscar aqui, e também ao mesmo tempo ninguém está dando apoio, a coordenação regional não está dando apoio, então tenho que sair’. Por isso que eu saí. E hoje você está vendo que a Funai não está indo para a aldeia, não está visitando as aldeias, não está construindo mais projetos etnosustentáveis. A Funai parou de ajudar as pessoas que estão defendendo a floresta.

Eu falei isso para o presidente e para os diretores da Funai, falei para eles que eles só estão ajudando quem está com atividade ilícita, só dão ouvido para quem está envolvido com essas atividades. E ele não respondeu nada.

A Funai também está fazendo política entre os povos Kayapó. Por exemplo, eles chegam nos indígenas e perguntam: ‘você está envolvido com garimpeiro? Com madeireiro?’. Aí os funcionários falam: ‘você tem que fazer isso, isso e isso’. [Depois falam dos indígenas que estão protegendo] e começam a usar um contra o outro, falam que as ONGs estão ganhando muito dinheiro nas costas dos indígenas e que eles têm direito sim de explorar ouro, madeira. A Funai não vê a lei. A extração de ouro e madeira dentro da Terra Indígena é proibida por lei.

Duas aldeias saíram recentemente do Instituto Kabu, porque elas foram cooptadas para a mineração. Como isso afeta a relação de vocês lá?

Fica muito ruim, fica muito ruim para quem está lutando pela defesa da floresta. Sabe por quê? Eu estou defendendo aqui e você quer derrubar [a floresta], então vai ser uma briga entre nós dois. Se eu não deixo você derrubar, mas você quer derrubar, vai ter uma briga. Isso está acontecendo, está causando problema. É o papel da Funai chegar naquela comunidade, naquela liderança e conversar com os dois para pedir as pazes. Antigamente a Funai fazia assim, ela ia lá na aldeia, conversava com a liderança, ajudava a expulsar os garimpeiros, mas hoje não.

Antes a Funai fazia as pazes e hoje ela estaria fazendo o contrário?

O contrário. Fazendo outra liderança brigar com outra. A gente não quer destruir a floresta. Agora o governo, a Funai, eles querem derrubar a floresta. Está bem claro que o governo Bolsonaro está usando a minoria contra a maioria.

Como a não renovação do PBA [Plano Básico Ambiental – Componente Indígena] em 2020, dinheiro que vinha da compensação das obras da BR 163, afetou a manutenção dos projetos e a segurança financeira dos indígenas da sua terra? Pode explicar isso melhor?

O PBA era pra ser executado, mas quando o Bolsonaro assumiu ele cortou. O que ocorreu? O presidente da Funai, que acredita que as organizações não-governamentais são das ONGs de fora [do país], mandou o pessoal investigar o Kabu, mas eles não encontraram nada. O próprio investigador descobriu que o problema está na Funai, mas ele [Marcelo Xavier, presidente da Funai] nunca foi atrás. Então a gente paralisou a BR 163 para tentar negociar, mas o presidente da Funai não foi lá. Em vez de ajudar, ele fez um pedido de ação contra minha pessoa, pensando que eu mandei paralisar a BR 163 para garantir o meu direito. Mas não é.

E como está este processo contra você?

Já foi arquivado.

Sem a ajuda da Funai no combate à mineração, como vocês tentam impedir que mais gente vá por esse caminho?

Eles [os que apoiam a exploração das terras] são minoria, são fraquinhos. Agora os [indígenas kayapó da aldeia Gorotire, localizada na TI Kayapó, que têm mineração em suas terras] estão chegando aí no ATL, eles estão aí, fizeram uma reunião ontem, eles estão afim de fechar o garimpo porque eles estão vendo que o efeito está acontecendo. Eles não estão pescando mais, [por conta da] contaminação do rio, dos peixes e dos animais. Chegou o momento que eles querem apoio, eles estão pedindo apoio para fechar o garimpo.

Mesmo sendo ilegal, a mineração em terras indígenas continua acontecendo. Ainda assim, existe o PL 191, que vai tornar mais fácil que esse tipo de empreendimento cresça dentro dos territórios. Qual é a importância de se posicionar contra isso?

É muito importante. É muito importante para quem está defendendo a floresta. A gente está vendo que está na cara, o governo quer abrir espaço, quer abrir a terra indígena. Só com o anúncio dele, o garimpo aumentou e a destruição aumentou.

Hoje com a tecnologia a gente grita, quando eu falo uma coisa aqui, você copia e já manda para outros, já manda para outros, já manda para outros. [Derrotar o PL é] muito importante para quem está precisando e pedindo ajuda. Tem muitos parentes que não têm terra para sobreviver. Eles precisam de ajuda, eles precisam dessa defesa. A preocupação é de todos. Quem está pegando dinheiro fácil [com a mineração] acha que é bom, mas pode trazer problemas para o futuro da família dele.

Qual a importância do Acampamento Terra Livre no meio disso?

A gente está junto aqui para ajudar os parentes que estão necessitando de uma terra, de uma floresta para sobreviver, porque o Bolsonaro não está demarcando… Esse ano, vai ter também [o julgamento do] Marco Temporal, e eu vou trazer a minha família todinha, meu filhinho vai andar aqui para aprender, para no futuro ver alguma imagem e dizer ‘pai, eu era criança e eu vi isso’. É muito importante esse encontro. Espero que essa luta vá passando de gerações para gerações.

Agora há um outro tema, que é sobre mudanças climáticas. Como você percebe essa mudança do clima lá na floresta?

A gente está vendo que o clima realmente está mudando. Não está chovendo na época da chuva, está chovendo fora da época, igual carnaval fora da época, entendeu? Muita gente está tendo que aprender como é que a gente [indígenas] faz para manter essa floresta em pé. Espero que as lideranças continuem defendendo a floresta para mais ou menos manter o clima no nível, mas realmente está mudando muito. Chuva fora da época da chuva, fora da época do verão. Tá tendo isso e a gente sabe que não somos nós que estamos desmatando. A gente é defensor da floresta e estamos vendo que realmente mudou.

Ou seja, não são vocês que estão causando isso, mas já está gerando efeito em vocês?

Isso.

Essa mudança das chuvas afeta de alguma forma as atividades no território?

Eu não fico muito na aldeia, só vou na época de final do ano ou meio de férias. Mas a gente vê que antes os Kayapó não frequentavam o rio Pixaxá. Depois de 20 anos, os Kayapó voltaram a frequentar, porque é o limite da terra indígena, entre o branco e a TI.

Quando a gente chegou lá não tinha peixe nenhum, mas cinco anos depois, com a presença dos Kayapós, que prenderam barco, prenderam arma, prenderam caça e pesca dos caras, cinco anos depois a gente viu os efeitos e que os peixes voltaram. Com o
desmatamento, com a destruição dos peixes e pesca predatória, a gente vê o efeito sim. Antes não tinha peixe, hoje se for lá você vai ver bastante peixe.

Então os conhecimentos indígenas dos Kayapó estão conseguindo recuperar algumas partes antes desmatadas?

Algumas partes do limite da TI, a gente continua conservando, a gente vai continuar, a gente vai lutar. As plantações de soja se aproximaram, encostou na TI e os venenos vão para o rio na época da chuva, então a gente está defendendo e a gente vai continuar com as criações das bases nos locais críticos, onde tem invasores. Depois que a gente criou as bases, não estão chegando mais as pessoas que estão destruindo.

Estão acontecendo várias reuniões internacionais, nas quais vários indígenas foram para falar sobre mudanças climáticas e como a gente pode parar isso. O senhor acha que o caminho para a gente superar esse processo está em ouvir os conhecimentos indígenas e entender que vocês sabem o que fazer ali, que são capazes de cuidar disso do jeito de vocês?

Realmente a gente pode usar esse nosso conhecimento para ajudar muito mais ainda. Não adianta você chegar lá e querer mandar nas TI, somos nós que temos esse conhecimento, a gente tem experiência. Eu acho que é muito importante falar das mudanças climáticas com a gente, a gente está vendo os efeitos e que realmente o clima mudou.

O senhor falou que a tecnologia permite que o que você fala aqui vá para outros lugares, chegue em mais pessoas. Nesse ano temos tanto as eleições, quanto a votação do PL 191, Marco Temporal, muitas pautas importantes e relevantes para defender os povos indígenas. Quais são as mensagens que o senhor gostaria de deixar para as pessoas, também não-indígenas, e para os deputados que vão decidir isso?

Eu vou deixar a mensagem aqui pros parentes, e pros não-parentes, que vamos lutar, vamos dar exemplo, vamos lutar junto para ajudar a barrar esse processo. É um processo criminoso, e, se for o caso do Congresso aprovar [o PL 191], a gente vai ter que ir ao Supremo, pedir pro Supremo barrar esse papel que quer destruir o nosso futuro, o nosso sonho. Isso eu peço para os parentes indígenas e não-indígenas, ajudar a fortalecer o nosso acampamento Terra Livre.

E, por favor, gente, vamos lutar, vamos não voltar mais no Bolsonaro, vamos votar no Lula, para ver se pelo menos ele respeita e dá ouvido pra gente.

Também existem muitas críticas ao ex-presidente Lula por parte do movimento indígena, que afirma que ele poderia ter feito mais pelos povos. Como está sendo a negociação para garantir que, caso eleito, ele priorize os povos indígenas?

A gente vai ter que elaborar um documento para ele assinar, fazer um compromisso com os povos indígenas, não só nós Kayapós, mas com o indígena do Brasil inteiro. Tem que fazer compromisso com os indígenas, porque são os primeiros habitantes do Brasil.

A gente está tentando trazer ele pra cá e ele assinar antes, fazendo um compromisso. Não do passado, porque no passado ele fez a barragem de Belo Monte, destruiu as famílias lá e acabou com o sonho das famílias que estão sofrendo lá. Ele errou. Eu sei que se eu errar, eu vou aprender com isso, mas tem gente que erra e nunca vai aprender. Espero que Lula entenda isso e aprenda com o erro.

Créditos de imagens

 Andressa Anholete/Agência Pública



*Colaborou: Matheus Santino

*Esta reportagem faz parte do especial Emergência Climática, que investiga as violações socioambientais decorrentes das atividades emissoras de carbono – da pecuária à geração de energia. A cobertura completa está no site do projeto.

Reportagem originalmente publicada na Agência Pública

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MICHÈLE SATO, PRESENTE!

MICHÈLE TOMOKO SATO O que dizer  escrever  - sobre Michèle Sato, em poucos parágrafos, que sejam expressivos e representativos da existência...