sexta-feira, 7 de agosto de 2020

Professor exonerado expõe autoritarismo dentro das universidades federais

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DECISÃO ANTIDEMOCRÁTICA

Professor exonerado expõe autoritarismo dentro das universidades federais

Ao PNB Online, Leonardo Castro, da UNIRIO, fala de sua exoneração sem justificativa depois de uma discussão em reunião virtual.

Hallef Oliveira

Da redação

Reprodução

Unirio reprodução.jpg

 

A exoneração sem justificativa de um professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Unirio) após uma confusão em uma reunião virtual virou palco de um debate sobre a gestão autoritária vivenciada atualmente pela universidade carioca. O professor doutor Leonardo Villela de Castro viu sua exoneração ser publicada na última sexta-feira, 31 de julho, sem nenhuma justificativa aparente e sem antes de nenhum processo administrativo interno ser aberto para apurar sua conduta durante a reunião do dia 29 de julho.

 

A reunião responsável pela polêmica ocorreu para discussão de planos pedagógicos durante a pandemia do coronavírus e estava sendo exibida abertamente em canal virtual. Quase no fim da reunião, os conselheiros estavam debatendo uma data para a continuidade do encontro.

 

Enquanto falava que não poderia participar tão brevemente de uma reunião, a pró-reitora Loreine Hermida foi surpreendida pela fala de Leonardo Castro direcionada a ela. “Para isso a senhora tem suplente, porra. Deixa de ser filha da p…”, teria dito o professor, causando choque em todos os presentes, dando fim imediato ao encontro. (Veja o vídeo aqui).

 

Horas depois da reunião, em sua página pessoal no Facebook, Leonardo Castro publicou um pedido de desculpas para a professora, na qual se justificou dizendo que “a forma agressiva como me referi à professora Loreine Hermida da Silva e Silva, na sessão conjunta dos conselhos superiores da UNIRIO, hoje, foi indigna e inclassificável. Todo ser humano merece, necessita e tem direito a consideração e respeito. Faltei com esses princípios básicos da civilidade que nos devem conduzir sempre, em todos os momentos de nossas vidas”. (Veja abaixo na íntegra).

 

No dia seguinte, em nota, o reitor da Unirio Ricardo da Silva Cardoso classificou a situação como “um significativo dano moral à dignidade da pessoa humana e prejuízos à imagem e reputação da Comunidade Unirio junto à sociedade local, regional e nacional, que espera de uma instituição pública federal de ensino superior o compartilhamento de princípios morais, como a dignidade, o decoro e o zelo – primados maiores que devem nortear o servidor público. Comportamentos e atitudes dessa natureza não preservam a honra e a tradição da Unirio”. Após a publicação da nota, a exoneração de Leonardo Castro foi deferida e validada no dia seguinte no Diário Oficial da União.

 

Arquivo pessoal

Professor Leonardo Castro.jpg

 

Leonardo Castro conversou com a reportagem do PNB Online nesta semana e disse ter sido vítima de um ato “ditatorial” pelo fato de que na exoneração não consta nenhum motivo que justificasse o ato. “No termo de exoneração ele não faz referência a motivo algum, apenas diz que pelo poder conferido a ele decide me exonerar e ponto final. Um ato absolutamente desproporcional ao incidente ocorrido, antidemocrático e ditatorial”, classificou.

 

O atual reitor da Unirio, Ricardo da Silva Cardoso, tomou posse no cargo em junho de 2019. Cardoso chegou a retirar sua candidatura ao cargo antes da consulta pública em abril do ano passado. A consulta aberta para alunos, técnicos e professores foi vencida pelo professor Leonardo Castro por 72% dos votos, que teve o nome enviado na lista tríplice do conselho universitário, sendo derrotado por 14 votos de diferença para Ricardo Cardoso, que reapareceu na disputa durante o conselho, quebrando um acordo entre os candidatos.

 

“Seria uma eleição direta e depois uma reunião dos conselhos para elaborarem a lista tríplice que seria enviada para o Governo Federal e contemplaria o mesmo resultado das eleições. O atual reitor tinha estabelecido um compromisso de participar do pleito, só que ele não se inscreveu, mudou de vice e não participou das eleições diretas, indo para a reunião do conselho, ganhando por 14 votos de diferença”, explicou Leonardo.

 

A partir desse momento, segundo o professor, a universidade vem vivenciando momentos de arbitrariedades por parte da reitoria, com resoluções que favorecem apenas o grupo político apoiado pelo reitor e que a exoneração sem nenhum motivo que explique o ato é um desses reflexos.

 

Alunos da universidade iniciaram um movimento para tentar reverter a exoneração. Diversos grupos estão movimentando a comunidade acadêmica e vários diretórios e cursos estão com abaixo-assinados no ar para que uma ação possa ser feita. “Compreendemos que a decisão de exoneração ataca Leonardo e toda a comunidade universitária, pois foi articulada de maneira arbitrária e autoritária, desconsiderando a expressão popular da universidade de apoio ao professor decano Leonardo. Portanto, ameaça a democracia”, diz texto de um abaixo assinado, (veja aqui).

 

O objetivo desses movimentos é fazer com que o conselho administrativo da Unirio entre com uma ação em até 30 dias para que o conselho universitário possa reverter a decisão da exoneração. O professor Leonardo Castro também pode entrar com esse pedido, no qual ele disse que está pensando sobre como fazer.

 

Atualmente, o professor doutor Leonardo Castro está em descanso. Segundo ele é um momento de “colocar as ideias em dia”, como por exemplo, refletir sobre a morte de sua esposa, ocorrida em abril deste ano, vítima da covid-19, após passar um mês internada em um hospital do Rio de Janeiro. “Ainda nem tive oportunidade de viver esse luto e por isso vou tirar uma semana de férias para poder colocar as ideias em dia. Enquanto isso, o movimento vai estar acontecendo e eu não sei quais os passos que serão dados. Eu não tenho gerência nenhuma sobre esse movimento (abaixo-assinado)”, explicou.

 

Por fim, classifica como “lamentável” a própria atitude durante a reunião, mas reitera que isso não justifica a exoneração e teme que isso sirva para dividir ainda mais a comunidade acadêmica, com mais decisões autoritárias e arbitrárias do grupo que está no poder. “Infelizmente acabei sendo protagonista de uma situação que só contribuiu de forma contrária para acirrar mais os ânimos e, do outro lado, houve uma reação que também trata de aprofundar essa crise. É uma situação institucional muito ruim, em um momento muito difícil”, disse o professor ao PNB Online.

 

Até o fechamento da edição da reportagem, a Unirio não emitiu nenhum posicionamento sobre a exoneração de Leonardo Castro, se limitando apenas à nota divulgada no dia 30 de julho, após a reunião e antes da publicação da exoneração no Diário Oficial da União. 

O Brasil toca as 100 mil mortes, e tudo está bem

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O Brasil toca as 100 mil mortes, e tudo está bem


A re­a­li­dade bra­si­leira é um conto de terror. Se a pessoa as­siste ao Jornal Na­ci­onal, da Rede Globo, fica cho­cada com os nú­meros da do­ença cau­sada pelo novo co­ro­na­vírus. Mais de 90 mil pes­soas já mor­reram, sendo que muitas dessas mortes po­de­riam ser evi­tadas, seja tendo um bom sis­tema de aten­di­mento, seja por uma ação na­ci­o­nal­mente co­or­de­nada de pre­venção. O Brasil não tem nem um, nem outro.

No já com­ba­lido Sis­tema Único de Saúde, o que se des­taca é a ação quase he­roica dos tra­ba­lha­dores que fazem o im­pos­sível para ga­rantir aten­di­mento e bem estar dos pa­ci­entes, mas ainda assim não con­se­guem fazer mi­la­gres e muita gente morre por conta da pro­saica falta de um res­pi­rador. Os de­poi­mentos de fa­mi­li­ares são dra­má­ticos, com pes­soas tendo de fazer cam­panha pú­blica para ga­rantir que um pai, uma mãe ou um irmão possam ocupar um leito de UTI.

Por outro lado, no campo do go­verno fe­deral, toda essa re­a­li­dade que a te­le­visão es­can­cara pa­rece não fazer có­cegas. O pre­si­dente do país, que há pouco tempo alegou estar po­si­tivo para o co­ro­na­vírus, segue fa­zendo apa­ri­ções pú­blicas, le­van­tando uma caixa de re­médio – a hi­dro­xi­clo­ro­quina – que ele alega ser efi­ci­ente para tratar a Covid-19, com a qual su­pos­ta­mente se tratou e se re­cu­perou. É uma cena es­tar­re­ce­dora. Ele com a caixa na mão, er­guendo como se fosse uma coisa sa­grada, e a massa que o acom­panha aos gritos de apro­vação. Tudo isso num país que está vi­vendo a pan­demia sem um Mi­nistro da Saúde, sendo a pasta co­man­dada por um in­te­rino, que é mi­litar e não tem qual­quer re­lação com o setor da saúde.

Sem uma ação na­ci­onal e com o pre­si­dente do país fa­zendo troça com a do­ença, a po­pu­lação vai se ar­ran­jando como pode. A mai­oria se­guindo com a vida, indo tra­ba­lhar, ex­pondo-se ao vírus quase sem qual­quer pro­teção, visto que até o uso da más­cara não é in­cen­ti­vado pelo go­verno fe­deral. Nas ruas das grandes e mé­dias ci­dades o co­mércio está normal e o vai e vem de gente também.

A po­pu­lação sim­ples­mente está re­to­mando a vida, mesmo que a curva da in­fecção es­teja cres­cendo em todo lugar. Os go­ver­na­dores e pre­feitos que tentam fazer fe­cha­mento ou me­didas de res­trição são re­cha­çados e en­frentam mo­vi­men­ta­ções pela aber­tura total de tudo. Morra quem tenha de morrer. Esse pa­rece ser o pen­sa­mento geral. Algo cho­cante para um país que até pouco tempo era co­nhe­cido pela “cor­di­a­li­dade” de seu povo.

O fato é que além do co­ro­na­vírus, uma boa parte da po­pu­lação bra­si­leira está in­fec­tada por in­for­ma­ções ab­surdas e men­ti­rosas, que levam a essas ações ir­ra­ci­o­nais. Para se ter uma ideia, no mundo dos bol­so­na­ristas ‘raiz’, as no­tí­cias que cir­culam são as de que a pan­demia é uma in­venção da China co­mu­nista para de­ses­ta­bi­lizar o go­verno de Bol­so­naro e de Do­nald Trump. Por conta disso está sendo ar­ti­cu­lado um plano di­vino de com­bate aos chi­neses e também a todos os ini­migos de Trump, que são pe­dó­filos e se­ques­tra­dores de cri­anças.

Nos ca­nais de You­tube dos apoi­a­dores do pre­si­dente a in­for­mação que cir­cula - e se es­palha por ou­tras pla­ta­formas, como o What­sApp - é de que está em an­da­mento um plano mun­dial, di­vino, sob o co­mando de Do­nald Trump, com o apoio do pre­si­dente bra­si­leiro, que vai salvar o mundo dos pe­dó­filos e dos co­mu­nistas. Se­gundo os gurus you­tu­bers, o pre­si­dente es­ta­du­ni­dense é o en­viado de deus para acabar com todo o mal neste mundo, e para isso ele vai contar com a ajuda de JFK Filho que, se­gundo eles, não morreu, e que es­tava es­con­dido es­pe­rando a hora certa de apa­recer. Agora, ele vai ser vice do Trump e li­derar a caça aos pe­dó­filos em todo o mundo.

Im­por­tante dizer que qual­quer pessoa que seja contra o Trump ou Bol­so­naro é pe­dó­filo. Existem mon­ta­gens mons­tru­osas en­vol­vendo ar­tistas e po­lí­ticos que são fo­to­gra­fados com cri­anças. Junto à foto, apa­rece outra foto com a mesma cri­ança, amar­rada, tor­tu­rada, as­sas­si­nada. É um ne­gócio sur­real. Claro que com a boa ajuda do Pho­toshop. É im­pres­si­o­nante que per­mitam a cir­cu­lação desses hor­rores.

Existem também fotos do playboy JFK en­ve­lhe­cido – também tra­ba­lhada no pho­toshop – para “provar” que ele está vivo e que será en­viado por deus para salvar o mundo. Ar­gu­mentam ainda que Trump está li­de­rando a im­plan­tação de bases mi­li­tares em cada país do mundo para jus­ta­mente de­belar a rede de pe­dó­filos, que é mun­dial, e que in­clui todos os seus ad­ver­sá­rios.

Essas bar­ba­ri­dades são pas­sadas por you­tu­bers que têm mi­lhões de se­gui­dores que, claro, in­vocam a deus e nossa se­nhora. Isso tem le­vado, in­clu­sive, a pe­quenos mas rai­vosos grupos ra­di­cais à casa dos ar­tistas ou ce­le­bri­dades que fazem crí­ticas ao pre­si­dente, in­ti­mi­dando-os e ame­a­çando-os, sem que haja qual­quer ação por parte da po­lícia ou da jus­tiça.

Outra “ver­dade” bol­so­na­rís­tica é que a Covid-19, além de ser uma farsa, uma con­versa in­ven­tada pelos co­mu­nistas para acabar com Trump e Bol­so­naro – por isso, nesses dois países o nú­mero de mortes tem sido grande - é também um grande es­quema de cor­rupção en­vol­vendo muito di­nheiro. Assim, para ga­rantir que haja bas­tante morte nos dois países, esse “cír­culo do mal” es­taria pa­gando 27 mil reais por cada pessoa morta por covid. Eu disse 27 mil reais. Quem es­taria le­vando esse di­nheiro? Os pre­feitos e go­ver­na­dores co­mu­nistas – o que in­clui qual­quer um que não seja aliado do Bol­so­naro, como o Dória, de São Paulo, ou o go­ver­nador do Rio Grande do Sul, que também é do PSDB.

Isso não é in­venção. São in­for­ma­ções pas­sadas nos grupos fa­mi­li­ares como ver­da­deiras. E não há ar­gu­men­tação pos­sível contra elas, ne­nhuma. É uma ir­ra­ci­o­na­li­dade ele­vada à úl­tima po­tência. Qual­quer ten­ta­tiva de re­fu­tação a esses ab­surdos – re­pito, pas­sados li­vre­mente nos ca­nais dos You­tu­bers – já te co­loca na lista ou de pe­dó­filo ou de co­mu­nista. Ou seja, já estás mar­cado para arder no in­ferno que será criado pela ali­ança Trump, JFK e Putin (isso mesmo, Putin seria se­cre­ta­mente aliado de Trump) para acabar com todo o mal. Uma guerra mun­dial que vai purgar os demô­nios co­mu­nistas.

Essas pes­soas têm au­di­ência de mi­lhares de pes­soas, ab­so­lu­ta­mente cré­dulas num fervor re­li­gioso.

E nesse cal­deirão de ir­ra­ci­o­na­li­dades a vida vai se es­vaindo. Há pouquís­simas ações por parte das Cen­trais Sin­di­cais, dos Par­tidos Po­lí­ticos, dos mo­vi­mentos so­ciais. Quase nada. Boa parte das li­de­ranças ditas de es­querda está em­pe­nhada na cons­trução de can­di­da­turas para as elei­ções do final do ano, como se tudo es­ti­vesse normal. No Con­gresso Na­ci­onal o go­verno fe­deral vai pas­sando suas pro­postas a favor do ca­pital e o de­sem­prego al­cança ín­dices as­tronô­micos – só nos úl­timos três meses mais de oito mi­lhões de pes­soas per­deram o em­prego, so­mando a um exér­cito de uns 12 mi­lhões já de­sem­pre­gados.

Por en­quanto, as pes­soas estão acu­adas, em casa ou ten­tando es­capar do vírus. Sabe-se lá o que vai acon­tecer quando a re­a­li­dade as­somar sem véus, para além dos fac­toides pro­vo­cados di­a­ri­a­mente pelo pre­si­dente do país. O Brasil é esse terror e in­cóg­nita.

MICHÈLE SATO, PRESENTE!

MICHÈLE TOMOKO SATO O que dizer  escrever  - sobre Michèle Sato, em poucos parágrafos, que sejam expressivos e representativos da existência...