Prof. Dr. Filipi Amorim
FURG
O
texto de hoje, escrevi com a triste e trágica notícia que dá conta da morte de
mais de 82 mil pessoas vítimas da COVID-19, no Brasil. Em nosso país, somamos
mais de 2 milhões de infectados. Aliás, não esqueçamos a subnotificação que,
corrigida, elevaria significativamente para mais esses números. Em resumo,
estamos perdidos: não temos testes; não temos índice de isolamento seguro; não
temos auxílio emergencial facilitado a quem realmente necessita; não temos
leitos suficientes nos hospitais. O que temos para o momento é a radicalização
da ignorância: pessoas que se recusam a usar máscara; aglomerações
desnecessárias; falsas promessas de uma cura milagrosa; populismo politiqueiro
e irresponsável.
Com
um paraquedista como ministro interino no Ministério da Saúde, o Brasil caminha
em direção à liderança mundial no número de vítimas e infectados pela COVID-19.
Substituímos a empatia e a sensibilidade, a comoção e a solidariedade, pela
frieza dos números e a ignorância em sua forma mais perversa. No Brasil de
Bolsonaro, fomos tragados pela desgraça: a pandemia desnudou o fracasso do
neoliberalismo. A natureza fria e sem vida dos números fez-se parâmetro e
métrica da condição humana determinada pela iminência da morte.
Resta
saber até quando aceitaremos saídas milagrosas, remédios sem eficácia
comprovada que prometem a cura, narrativas e ações que ignoram a realidade dos
fatos. Influenciados pelas pessoas que tomam as decisões políticas capazes de
mudar os rumos das nossas vidas, caímos no abismo da ignorância. Na conjuntura
atual, instala-se a naturalização da morte de mais de 82 mil pessoas (e quantas
mais estão por vir até que tudo isso acabe?) ao mesmo tempo em que a
hidroxicloroquina e a ivermectina (ambas comprovadamente sem eficácia) mantêm-se
como as salvadoras dos brasileiros infectados. Como nos rendemos às narrativas
que negam o conhecimento científico e propagam mentiras que colocam nossas
vidas em risco?
É
necessário entendermos que, a depender unicamente do senso de voluntarismo da
população, a pandemia fará outras tantas milhares de vítimas: é urgente
assegurar políticas públicas, embasadas tanto técnica quanto cientificamente,
que priorizem a promoção da saúde e a vida da população. O que acontece hoje é
o exato oposto. Aqueles que têm poderes de decisão política e influência
propagam desinformação e fazem pouco caso da pandemia – assustadoramente, isso
inclui jornalistas, médicos, prefeitos, governadores e o presidente da
república. Em que momento foi decidido por bem que a opinião isolada do
indivíduo que crê em algo poderia converter-se em decisão política? Quando foi
que passamos a admitir a anomalia como novo normal? A história individual
aproxima-se de um destino coletivo: a radicalização da ignorância banalizou a
tragédia.
Texto original:
https://pt.calameo.com/read/006230966e2cf01f2ee5f
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