sexta-feira, 20 de março de 2020

Brasil: pandemia e projeções políticas

O MOMENTO, p. 2
Lages, 19/03/2020

PONTO DE VISTA
POR FILIPI VIEIRA AMORIM

Brasil: pandemia e projeções políticas

            Os últimos fatos dificultam a escolha temática deste artigo: a fragilidade da economia (escalada histórica do dólar), teorias da conspiração (anunciadas por quem não deveria), negacionismo (com relação à ciência) e revisionismo histórico (desejo eterno dos líderes autocráticos), saltam aos olhos no cenário político.
            Enquanto escrevia, algumas coisas aconteceram: primeira morte por Covid-19, no Brasil; Ministros Moro e Mandetta editaram portaria autorizando a intervenção policial no descumprimento de quarentenas; Presidente da República repetia as palavras “histeria” e “alarmismo” sobre a pandemia. Aliás, fato inacreditável e de imensurável irresponsabilidade: Bolsonaro exposto ao público que se manifestava no dia 15/03.
Duas análises rápidas sobre o Presidente: i) negou, mas convocou, “tentou desconvocar”, e depois apoiou e participou da manifestação contra o STF e pelo fechamento do Congresso; ii) sabendo que 11 pessoas de sua comitiva estavam com Covid-19 (em 15/03, hoje, 17/03, são 14, e os números podem mudar até a publicação desta edição), cumprimentou manifestantes. Deve, o Presidente da República, participar de manifestações anti-democráticas contra as Instituições que sustentam nossa frágil democracia? Pode ele desrespeitar, desobedecer, as recomendações para a contenção e redução dos contágios pelo Coronavírus, estratégia emergencial no mundo?
Estamos diante de um mitômano que demonstra um comportamento sociopata. As atitudes de Bolsonaro não podem ser naturalizadas, menos ainda exaltadas. Se você vê com naturalidade, considere-se conivente com as consequências que se avizinham: na política, na economia e na saúde, em um futuro próximo. Ninguém quer para si o título de profeta, mas inúmeras vozes fizeram e fazem esse alerta. É possível ver reações de repúdio de quem não esperávamos, tamanha a gravidade do fenômeno que se anuncia. Eleições de 2018 são questionadas por quem venceu (golpe anunciado); a pandemia foi vista com descaso (tragédia anunciada); o Estado ignora a realidade de quem não tem as mínimas condições materiais de existência (desgraça anunciada).
Acabei de ver a notícia da possível segunda morte por Covid-19: uma empregada doméstica que teve contato direto com a empregadora, que veio da Itália e testou positivo para Coronavírus. Quem é você nesse cenário? Empregada ou empregadora? Quem pode ficar em isolamento ou quem é obrigado a trabalhar independente de riscos e sintomas?
A pandemia ensina que devemos lutar pelos direitos que o neoliberalismo e a política necrófila querem nos tirar. É tempo de sermos solidários, demonstrarmos empatia e cuidado com o outro, e reivindicarmos democracia acima de tudo. Espero que esta edição mostre um cenário otimista e contradiga o que expus aqui.

Dr. Filipi Vieira Amorim

Filósofo, Professor do Instituto de Educação da Universidade Federal do Rio Grande – FURG

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