O MOMENTO, p. 2
Lages, 19/03/2020
PONTO DE VISTA
POR FILIPI VIEIRA AMORIM
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Lages, 19/03/2020
PONTO DE VISTA
POR FILIPI VIEIRA AMORIM
Brasil: pandemia e projeções políticas
Os
últimos fatos dificultam a escolha temática deste artigo: a fragilidade da
economia (escalada histórica do dólar), teorias da conspiração (anunciadas por
quem não deveria), negacionismo (com relação à ciência) e revisionismo
histórico (desejo eterno dos líderes autocráticos), saltam aos olhos no cenário
político.
Enquanto
escrevia, algumas coisas aconteceram: primeira morte por Covid-19, no Brasil;
Ministros Moro e Mandetta editaram portaria autorizando a intervenção policial no
descumprimento de quarentenas; Presidente da República repetia as palavras
“histeria” e “alarmismo” sobre a pandemia. Aliás, fato inacreditável e de
imensurável irresponsabilidade: Bolsonaro exposto ao público que se manifestava
no dia 15/03.
Duas análises rápidas
sobre o Presidente: i) negou, mas convocou, “tentou desconvocar”, e depois apoiou
e participou da manifestação contra o STF e pelo fechamento do Congresso; ii)
sabendo que 11 pessoas de sua comitiva estavam com Covid-19 (em 15/03, hoje,
17/03, são 14, e os números podem mudar até a publicação desta edição),
cumprimentou manifestantes. Deve, o Presidente da República, participar de
manifestações anti-democráticas contra as Instituições que sustentam nossa
frágil democracia? Pode ele desrespeitar, desobedecer, as recomendações para a
contenção e redução dos contágios pelo Coronavírus, estratégia emergencial no
mundo?
Estamos diante de um
mitômano que demonstra um comportamento sociopata. As atitudes de Bolsonaro não
podem ser naturalizadas, menos ainda exaltadas. Se você vê com naturalidade,
considere-se conivente com as consequências que se avizinham: na política, na
economia e na saúde, em um futuro próximo. Ninguém quer para si o título de
profeta, mas inúmeras vozes fizeram e fazem esse alerta. É possível ver reações
de repúdio de quem não esperávamos, tamanha a gravidade do fenômeno que se
anuncia. Eleições de 2018 são questionadas por quem venceu (golpe anunciado); a
pandemia foi vista com descaso (tragédia anunciada); o Estado ignora a
realidade de quem não tem as mínimas condições materiais de existência (desgraça
anunciada).
Acabei de ver a notícia
da possível segunda morte por Covid-19: uma empregada doméstica que teve
contato direto com a empregadora, que veio da Itália e testou positivo para
Coronavírus. Quem é você nesse cenário? Empregada ou empregadora? Quem pode
ficar em isolamento ou quem é obrigado a trabalhar independente de riscos e
sintomas?
A pandemia ensina que
devemos lutar pelos direitos que o neoliberalismo e a política necrófila querem
nos tirar. É tempo de sermos solidários, demonstrarmos empatia e cuidado com o
outro, e reivindicarmos democracia acima de tudo. Espero que esta edição mostre
um cenário otimista e contradiga o que expus aqui.
Dr.
Filipi Vieira Amorim
Filósofo,
Professor do Instituto de Educação da Universidade Federal do Rio Grande – FURG
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