le monde
De
<https://diplomatique.org.br/os-100-primeiros-dias/>
De
<https://diplomatique.org.br/os-100-primeiros-dias/>
Os 100 primeiros dias …
ESPECIAL
- 100 PRIMEIROS DIAS | BRASIL
por Alexandre Busko Valim e Juliana Sayuri
Abril
10, 2019
Imagem
por Hans Holbein, Dança da Morte ou Dança
Macabra
Após um trimestre turbulento,
deflagraram-se demissões, disputas internas, crises e um vaivém de medidas
polêmicas, marcadas por declarações e recuos em tempo recorde. Neste especial,
autores de diferentes áreas analisam os rumos das principais pautas do atual
governo, a partir das iniciativas dos ministérios e seus impactos reais
Jair Bolsonaro (PSL) assumiu a Presidência da
República em 1º de janeiro de 2019. Passados os 100 primeiros dias do novo
governo, deflagraram-se demissões, disputas internas, crises e um vaivém de
medidas polêmicas, marcadas por declarações e recuos em tempo recorde.
Em fins de 2018, publicamos o
especial Feliz Ano Velho na edição digital de Le Monde Diplomatique
Brasil, com artigos de
historiadores sobre o despertar de fantasmas antigos do autoritarismo com a
ascensão do ex-capitão ao Palácio do Planalto.
Desta vez, em abril de 2019, convidamos autores de
diferentes áreas para analisar os rumos das principais pautas do atual governo,
a partir das iniciativas dos ministérios e seus impactos a trabalhadores,
educadores, cientistas, mulheres e minorias, direitos humanos, políticas
culturais, relações internacionais.
O historiador Adriano Duarte, da Universidade Federal
de Santa Catarina, discute como o Ministério do Trabalho resistiu durante quase
90 anos, incluindo dois períodos autoritários (o Estado Novo de 1937 a 1945 e a
ditadura militar de 1964 a 1985), e agora foi segmentado e incorporado a outras
pastas, indicando a vitória de um projeto neoliberal: “O mercado acima de tudo,
os indivíduos acima do todo”.
O cientista político Luis Felipe Miguel, da
Universidade de Brasília, destrincha como o ex-Ministério da Educação sob
Ricardo Vélez Rodríguez se pautou em iniciativas que, a priori, se posicionam
contra o ensino público e crítico. Na prática, diz Miguel, duas palavras
sintetizam a postura do governo diante da educação: “É contra”.
O historiador Sidnei Munhoz, da Universidade Estadual
de Maringá, escreve sobre o destino do Ministério da Ciência, Tecnologia,
Inovações e Comunicações. Segundo Munhoz, o desenvolvimento científico e
tecnológico estará fadado ao fracasso se prevalecerem o estrangulamento
orçamentário e as políticas de desmonte de financiamento à pesquisa iniciadas
por Michel Temer e acirradas por Jair Bolsonaro.
A cientista política Flávia Biroli, da Universidade de
Brasília, aborda o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. De
acordo com a análise da autora, diversos grupos vêm confrontando a agenda
feminista. Três se destacam: evangélicos conservadores, como a ministra Damares
Alves; o movimento Escola Sem Partido; e o clã Bolsonaro.
O pesquisador Alfredo Manevy, da Universidade Federal
de Santa Catarina, lembra a trajetória do Ministério da Cultura, fundado logo
após a redemocratização (1985) e como a iniciativa caiu sob Fernando Collor,
ressurgiu sob Itamar Franco, resistiu sob Michel Temer e golpeada novamente sob
Jair Bolsonaro. Ex-secretário do MinC e diretor-presidente da Spcine, Manevy
argumenta que, apesar da ausência da pasta, manifestações culturais e
artísticas continuarão buscando vez e voz.
O historiador Adriano de Freixo, da Universidade
Federal Fluminense, assinala a guinada radical nas diretrizes históricas do
Ministério das Relações Exteriores sob Ernesto Araújo, destacando tentativas
inclusive de transformações institucionais dentro do próprio Itamaraty. Segundo
Freixo, os próximos meses serão decisivos para as pretensões do atual chanceler
e do núcleo duro do bolsonarismo.
O historiador Rivail Rolim, da Universidade Estadual
de Londrina, trata da situação dos direitos humanos após a vitória de um
projeto que, diversas vezes, defendeu ideias contrárias aos direitos humanos e
de estímulo à repressão no país. Para Rolim, a proposta anti-crime atual
fomenta um cenário de insegurança pública e jurídica, um impasse para o avanço
na construção de um Estado democrático de direito.
Por fim, o pesquisador Gilberto Maringoni, da
Universidade Federal do ABC, e o consultor Artur Araújo, ex-diretor da
Embratur, radiografam os diversos grupos de interesse que orbitam em torno do
governo. Os autores identificam quatro núcleos: o nicho ideológico (composto
pelos ministros Ricardo Vélez Rodríguez, Ricardo Salles, Ernesto Araújo e
Damares Alves, além dos filhos do presidente), a ala fardada (altos oficiais
militares de direita), a estrutura judicial (liderada pelo ex-juiz Sérgio Moro)
e a pasta dos negócios (coordenada pelo economista Paulo Guedes).
A partir do Dezoito de Brumário de
Karl Marx, Maringoni e Araújo argumentam que a composição simboliza a ascensão
do lumpesinato ao poder: um governo lúmpen, aventureiro, aberto a interesses
imediatos e avesso a projetos de longo prazo, incitando a disputa de cada um
contra todos – ou, nas palavras de Leviatã, de Thomas
Hobbes, lembradas pelos autores: “Todo homem é inimigo de todo homem”.
Por Alexandre Busko Valim é Professor do Programa de Pós-Graduação em História da
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e autor de O Triunfo da Persuasão (Alameda, 2017), entre outros
e Juliana Sayuri é jornalista, historiadora e autora de Diplô: Paris – Porto Alegre (Com-Arte, 2016) e Paris – Buenos Aires (Alameda, 2018)
Nenhum comentário:
Postar um comentário