sábado, 30 de março de 2019

OUTROS 17


 OUTROS 17

Dentro de cada "Sabe com quem tá falando?"
Cabem os 117 fuzis, os 111 tiros de Costa Barros,
os 1308 corpos em auto de resistência com os 11 de Suzano
são 300 em Brumadinho
e aí já são outros 300 que não contaram

Na conta da necropolítica a soma é 17 bestas do apocalipse
Contabilidade mal-assombrada dessa
Máquina de subtrair vida e de moer gente
Vale 20 pontos se for na cabecinha, pro governador
Por senador 500 kilos
Pra vereadora 4 tiros de dor
e saudade infinita

Hipócritas,
tiranos de placas rasgadas emolduradas em fantasia
Centelha no fio da navalha
fio da vida mesmo que nada valha

Michel, Jair, Flavio, Carlos, Sérgio, Gilmar, Marcelos, Wilsons, Neves
todos vocês, todos iguais
Pertencem aos que pagam mais
Mortos; vivos
Lacaios e lacraias dos de lá de cima
Dos de pescoço vermelho
sentados em suas poltronas, feito troninhos
Do planalto
Da plantation de sempre
Dos donos dos muros
Do lado de lá
De dentro do condomínio

Dos que julgam,
prendem,
condenam,
encarceram,
negam,
encobrem 
 violentam  
Com cinismo e hipocrisia da sua alma pequena
Covarde e moribunda alma

Hipócritas
Hipócritas
Hipócritas

A mim engolem
e sopro vento
Dessuspiro alento

Dia 31, em meu último suspiro
 apagam-se as luzes
Revive-se a escuridão

Dor, silencio, "cala a boca!"
 Sabe com quem tá calando?

Desses porões feitos de medo
Você quer comemorar, sinhô    
Tirana ratanaza que se alimenta de sangue da tortura
Te trouxeram de outros porões

De brancas velas de caravelas que não param de chegar
Desalmadas desumanizadas
Cheias de necropoder
Desejo de matar

Do lado de cá
Desse muro sufocante
 ouço os gritos e rangidos dos que apenam, são outros 500
Por verdades e histórias únicas
Legislações aberrantes
Impostas por teus herdeiros sucessórios,
“podres poderes” da morte
Na tua cadeia alimentar de voracidade e ganância dos que apagam histórias e memórias
dos que continuam a chegar nas suas malditas caravelas
Feitas de verdades únicas
manchadas de sangue
tingidas desse pau vermelho

brasil acima de todos
Teu Deus de morte acima de todos
Brasil   Em chamas, em brasa, sul-foco

Em lágrimas e negro dramas
Dentro de cada rojão
Pá pá pá
Cai mais um
Nessa tua ensandecida comemoração
Morre um pouco mais meu país



Golpe
atrás
golpe
desgalopa em retrocesso
uma nação

Rasga sangra arde
Cada coração que ainda bate

Morre um pouco mais meu país
Morre um pouco mais meu coração

~ Celso Sanchez
Em 31/março/2019
 


arte: mimi


2 comentários:

AFGuerra disse...

É triste Celso, mas o pesadelo torna-se cada vez mais real.
Seguimos na resistência e esperança do

Celso Sanchez disse...

Obrigado meu amigo! Esperancemos !

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