OUTROS 17
Dentro de cada "Sabe com quem tá falando?"
Cabem os 117 fuzis, os 111 tiros de Costa Barros,
os 1308 corpos em auto de resistência com os 11 de
Suzano
são 300 em Brumadinho
e aí já são outros 300 que não contaram
Na conta da necropolítica a soma é 17 bestas do
apocalipse
Contabilidade mal-assombrada dessa
Máquina de subtrair vida e de moer gente
Vale 20 pontos se for na cabecinha, pro governador
Por senador 500 kilos
Pra vereadora 4 tiros de dor
e saudade infinita
Hipócritas,
tiranos de placas rasgadas emolduradas em fantasia
Centelha no fio da navalha
fio da vida mesmo que nada valha
Michel, Jair, Flavio, Carlos, Sérgio, Gilmar, Marcelos,
Wilsons, Neves
todos vocês, todos iguais
Pertencem aos que pagam mais
Mortos; vivos
Lacaios e lacraias dos de lá de cima
Dos de pescoço vermelho
sentados em suas poltronas, feito troninhos
Do planalto
Da plantation de sempre
Dos donos dos muros
Do lado de lá
De dentro do condomínio
Dos que julgam,
prendem,
condenam,
encarceram,
negam,
encobrem
violentam
Com cinismo e hipocrisia da sua alma pequena
Covarde e moribunda alma
Hipócritas
Hipócritas
Hipócritas
A mim engolem
e sopro vento
Dessuspiro alento
Dia 31, em meu último suspiro
apagam-se as luzes
Revive-se a escuridão
Dor, silencio, "cala a boca!"
Sabe com quem tá
calando?
Desses porões feitos de medo
Você quer comemorar, sinhô
Tirana ratanaza que se alimenta de sangue da tortura
Te trouxeram de outros porões
De brancas velas de caravelas que
não param de chegar
Desalmadas
desumanizadas
Cheias de
necropoder
Desejo de
matar
Do lado de cá
Desse muro sufocante
ouço os gritos e rangidos dos que apenam, são outros 500
Por verdades e histórias únicas
Legislações aberrantes
Impostas por teus herdeiros sucessórios,
“podres poderes” da morte
Na tua cadeia alimentar de voracidade e ganância dos que
apagam histórias e memórias
dos que continuam a chegar nas suas malditas caravelas
Feitas de verdades únicas
manchadas de sangue
tingidas desse pau vermelho
brasil acima de todos
Teu Deus de morte
acima de todos
Brasil Em chamas,
em brasa, sul-foco
Em lágrimas e negro dramas
Dentro de cada rojão
Pá pá pá
Cai mais um
Nessa tua ensandecida comemoração
Morre um pouco mais meu país
Golpe
atrás
golpe
desgalopa em
retrocesso
uma nação
Rasga sangra arde
Cada coração que ainda bate
Morre um pouco mais meu país
Morre um pouco mais meu coração
~ Celso Sanchez
Em 31/março/2019
crédito de imagem
https://www.youtube.com/watch?v=CRbZwM7fjYM
https://www.youtube.com/watch?v=CRbZwM7fjYM
arte: mimi
2 comentários:
É triste Celso, mas o pesadelo torna-se cada vez mais real.
Seguimos na resistência e esperança do
Obrigado meu amigo! Esperancemos !
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