quinta-feira, 7 de março de 2019

não pare de sonhar



São Paulo, 7 de março de 2019
 
Sonho* 
John Lennon 
(tradução de Flávio Aguiar)

Sonhe que não há paraíso
É fácil, se você tentar.
Abaixo não há inferno
Acima, só estrelas pra se olhar
Sonhe com todo mundo
Vivendo apenas o presente…

Sonhe que não há países
Não é difícil não
Nada por que morrer ou matar
Num mundo sem religião
Sonhe com todo mundo
Vivendo sua vida em paz...

Pode me chamar de sonhador
Mas não estou só não
Quem sabe você um dia
Também nos dê a sua mão...

Sonhe que tudo é de todos
Será que você se esmera?
Um mundo sem ganância ou fome
Onde a fraternidade impera
Sonhe com todo mundo
Dividindo com todos tudo...

Pode me chamar de sonhador
Mas não estou só não
Quem sabe você um dia
Escolha o mundo sem divisão…

*Optei pelo verbo sonhar porque “Sonhe”, em português, tem a mesma sonoridade bonita de “Imagine” em inglês.
“Imagine”, em português, não tem a mesma beleza sonora.

Ouça a música em: https://goo.gl/wptKdB   

you tube: https://www.youtube.com/watch?v=YkgkThdzX-8


Aproveitando a leveza do Carnaval, começo nossa conversa com a belíssima canção de John Lennon, traduzida especialmente para Carta Maior, pelo companheiro Flavio Aguiar. 

Depois de tudo que passamos, das vitórias às derrotas, o sentimento é de que precisamos continuar. E continuar significa, em primeiro lugar, manter nossa capacidade de sonhar. 

Por isso essa canção e a lembrança de que já passamos por situações tão ou mais difíceis quanto esta. E se aqui chegamos é porque nunca deixamos de sonhar com um mundo sem posses, sem ganância, sem fome. 

Um mundo onde possamos viver em paz. 

Sim, nós precisamos voltar a sonhar, afinal, o que seria de nós, da esquerda, sem utopias? 

E foi pensando nelas que criamos a editoria “Debates Maior” que, entre fevereiro e março, traz a seguinte questão aos nossos intelectuais: O que é ser de esquerda?

Segundo Flávio Aguiar, “a primeira condição para ser de esquerda hoje é parar de falar ´na esquerda´ e passar a falar ´nas esquerdas`. É preciso acabar com o que chamo de ´síndrome do banco da frente´, descrita mais ou menos assim: na nossa Kombi (sou do tempo das heróicas Kombis) é de esquerda quem senta comigo no banco da frente; dali pra trás e pra fora é tudo traidor do proletariado e da revolução que está nos esperando já no primeiro cruzamento. O diabo deste tipo de pensamento, que vigorou e ainda vigora por áreas do sentimento de ser ´vanguarda´, é que não há cruzamento: esta estrada não tem fim”.

Já o senador Saturnino Braga avalia como “de esquerda” “todos aqueles que não aceitam como natural esta grande divisão da sociedade entre pobres e ricos, por considera-la uma teratologia do próprio sistema capitalista, do sistema de propriedade privada; e exigem, enquanto durar este sistema, a intervenção explícita do Estado, através de políticas econômicas e sociais que sejam eficazes na correção desta injustiça, na redução das diferenças de classe”.

Reginaldo Moraes, por sua vez, afirma que ser de esquerda é ter a atitude do time visitante, de quem sabe que joga no campo do adversário. “Sua torcida é minoritária dentro do estádio, ainda que ela tenha muito mais gente ‘do lado de fora’ da bilheteria. Jogar como time visitante é catimbar o adversário e irritar sua torcida. Se percebemos que não é isso que está acontecendo, melhor desconfiar. Essa esquerda pode estar fazendo o jogo conveniente para os homi. Nesse caso, ela é o visitante ideal para os donos do campo”.

Trazendo um excelente exemplo do que seria “catimbar o adversário”, Fernando Nogueira da Costa propõe pensarmos “no que fazer?”. “No debate público-parlamentar a ser enfrentado, aqui-e-agora, será pertinente à esquerda propor um avanço civilizatório. Na reforma da Previdência Social, aceitar 65 anos como idade mínima para se aposentar tendo como compensação 4 dias com 9 horas de jornada de trabalho por semana. Toda a sociedade ganhará!”, propõe.

Liszt Vieira lembra que “tradicionalmente a direita tem 30% do eleitorado, a esquerda idem, e os 40% restantes constituem o chamado ´centro´”; e aponta como erro persistente da esquerda chamar o centro de direita. “Um erro de raízes históricas. As analogias são sempre perigosas, porque os contextos históricos são diferentes. Mas vale recordar o famoso erro do partido comunista alemão nos anos 30 que identificou como inimigo principal seus concorrentes mais próximos, os socialistas e os social democratas. Veio o fascismo, e destruiu todos”, complementa.

Roberto Bueno, por sua vez, avalia que a esquerda “não poderá realizar a sua identidade ideológica sem dispor de amplos espaços de comunicação social”. “Sem mídia forte, a população não dispõe de meios de concretizar a si enquanto povo, a sua cultura e sua história quando não seja através de meios de comunicação não controlados pela plutocracia. A transformação da mídia oligopolizada controlada pela plutocracia deve permitir reconfigurar o campo semântico e ideológico popular, em que hoje aparece a descrição de que o liberalismo capitalista equivale à democracia”.

E esses são apenas alguns aspectos levantados por eles. Aproveito e já faço um apelo à participação das nossas intelectuais neste debate que estenderemos, dada sua importância, até o mês de abril. 

Convido todos vocês à leitura da nossa editoria Debates Maior. Aproveitem para conferir nossa página especial de Carnaval que entra no ar a partir deste fim de semana.

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