Carta de Berlim: A Nova Internacional Progressista: a que vem, para onde pode ir
As esquerdas já contaram com várias Internacionais. A Primeira logo acabou, mas deixou o Manifesto Comunista como herança. A Segunda virou a Socialista. A Terceira, a Comunista, nos legou o famoso hino de esquerda que leva seu nome. A letra foi escrita pelo Communard francês Eugène Pottier, nos últimos dias da agonizante Comuna de Paris, em maio de 1871. Pottier fugiu para os Estados Unidos, onde virou franco-maçom.
A música foi composta por Pierre De Geyter, então um militante socialista, em 1888. De Geyter aderiu ao comunismo no começo do século XX. Em 1927 esteve presente à comemoração dos 10 anos da Revolução Bolchevista, compartilhando o palanque de honra com a artista plástica Köthe Kollwitz e com, hum, bem, enfim… Josef Stalin, que lhe concedeu uma condecoração e uma pensão vitalícia.
A primeira versão para o português foi feita por um anarquista português, Neno Vasco, em1901, quando vivia no Brasil. Depois ele voltou para Portugal, onde morreu em 1920, pobre e sempre anarquista.
Depois veio a Quarta Internacional, de inspiração trotskista...
Sem falar nos times inspirados nela, desde A Internazionale de Milão, o Internacional de São Paulo, campeão estadual de 1917 (!) e o Internacional de Porto Alegre, campeão do mundo em 2006, derrotando o multimilionário Barcelona, mas de tradição catalã e esquerdista (contra o franquista Real Madrid), no Japão.
Esta rapidíssima biografia do termo “Internacional” mostra a sua complexidade.
E os movimentos de inspiração internacionalista continuaram proliferando. O último de grande porte foi o Fórum Social Mundial, criado em Porto Alegre, em 2001, se contrapondo ao Fórum Econômico de Davos, na Suíça, que se transformara no mega-encontro do Capitalismo neo-liberal triunfante. O FSM, depois de um meteórico sucesso, acabou se esvaziando, naufragando no embate entre o traço ongueiro, que o queria menos conclusivo e apartidário, e o traço sindicalista, que o queria o contrario: mais conclusivo e partisan, senão partidário. Ainda existe, mas não tem mais o ímpeto de antes.
Agora surge mais uma tentativa de criação de um organismo semelhante, a Internacional Progressista, movimento fundado a partir de uma iniciativa do senador norte-americano Bernie Sanders sua esposa Jane, em 2018. O nome mostra uma atitude defensiva, que espera tornar-se ofensiva. Defensiva: visa reunir opositores à vaga direitista e autoritária que toma conta do mundo, de Trump a Bolsonaro, de Matteo Salvini a Viktor Orban, de Ivan Duque a Shinzo Abe.
Tem o apoio e a liderança, além dos Sanders, de Yanes Varoufakis, Naomi Klein, Fernando Haddad, da primeira ministra islandesa, Katrín Jakobsdottir, Celso Amorim, Álvaro Garcia Linera, Rafael Correa, Arundhati Roy, e muita outra gente de primeira linha na defesa da democracia de inspiração socialista ou social-democrata.
A organização promete um primeiro encontro internacional em setembro, em Reykjavik, capital da Islândia.
Tudo o que podemos dizer é: tomara que dê certo. A força desta novas esperança é sua amplitude. Mas pode ser também sua fragilidade, se não houver a convergência para um mínimo e máximo denominador comum.
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