Em
isolamento, 09/05/2020
DA
INSUSTENTABILIDADE DE UMA VIDA A UM OUTRO MUNDO POSSÍVEL.
Mauro
Guimarães – Prof. da UFRRJ
Crescimento
ilimitado; concentração crescente; eliminação da diversidade são alguns dos
pilares que sustentam o modo de vida moderna que hoje, dentro de um macro
colapso climático planetário também desmorona diante do micro ser Covid19.
Crescimento
ilimitado; concentração crescente; eliminação da diversidade são princípios
organizativos de movimentos antinaturais da vida dessa sociedade e que levam a
desequilíbrios que não sustentam a vida. Movimentos necrófilos que trazem a
destruição sobrepujando a construção.
Crescimento
ilimitado de uma economia globalizada que se estrutura a partir da exploração
infinita de recursos naturais que são finitos em sua planetariedade. Resultado:
degradação ambiental.
Concentração
crescente de riqueza concretizada na desigualdade perversa da riqueza de poucos
sobre a pobreza de muitos - degradação social. Concentração crescente espacial
decorrente da econômica, que nos amontoa cada vez mais em grandes centros
urbanos, em que a escala humana de vida é superada por estruturas sufocantes
que ganham dinâmica própria secundarizando a vida - humana e não humana. Somos
uma simples engrenagem desta linha de produção que se mostra nefasta, excluindo
em guetos de sobrevivência os que a isso não se encaixam - degradação espacial.
Eliminação
da diversidade: biológica, de modos de vida, cultural, de modos de produzir,
para impor um modo único, monocultural, de hegemonia de um produzir
hiperprodutivo para além da escala humana de vida. Imposição sustentada por
relações de poder de dominação e exploração em que o hegemônico silencia o que
não é igual. Fascismo, exclusão, necropolítica, degradação socioambiental, assim
como mortes por traz de máscaras, mãos mal lavadas, na aglomeração das
concentrações crescentes de uma massa que se move aturdida e alienada,
consequências de uma crise que demonstra dia a dia a insustentabilidade de um
modo de vida; a nossa!
Mas a crise
nos mostra a escala global econômica incompatível com a escala humana de vida.
Os crescentes macro urbes, insalubres, de ritmo alucinante, de vidas
robotizadas, insensíveis ao outro vulnerabilizado, invisível maltratado,
crianças de futuro marginal. No rural da megaprodutividade, a exaustão do solo,
a contaminação hídrica, o alimento envenenado, os sem terras expropriados, sem
lugar de sobreviver. Nos rios e mares, esgoto, poluição, plástico em profusão.
O ar contaminado, concentração dos gases estufa, o horizonte nublando olhos que
já não enxergam a luz de um novo dia. Essa não é a escala da vida humana! É o
normal da escala econômica global que disjunta, segrega, exclui e necrosa a
sustentabilidade da vida que humanamente não conseguimos mais abraçar.
Voltar ao
normal? O normal é o problema! A crise nos mostra que esse normal colapsou. No
ponto de vida ou morte, o ponto de mutação. A escala da vida humana nos mostra
que menos é mais, que o próximo está no local de vida, onde posso ajudar e ser
ajudado, abraçar e ser abraçado, amar e ser amado, pois é dando que se recebe
como diz a oração de São Francisco. Na simplicidade das boas relações humanas é
onde podemos construir o novo normal, o normal da sustentabilidade da escala da
vida. Que a crise seja superação, oportunidade de transição para um outro mundo
possível; o mundo numa escala, em que nós humanos, humildemente somos parte de
um todo maior, a vida!
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